Vila Campo do Gerês - Zona Sul / Riding Portugal

Hello everyone and welcome to my blog :-)

My visit to the southern part of Vila do Gerês began with the typical stubbornness of someone who looks at the sky full of gray clouds and thinks, “Oh, this is not going to lead to anything.” Of course it did, but neither the rain, nor the wind, nor the coat that I insisted on not bringing could spoil the charm of that little corner hidden among the mountains of the Peneda-Gerês National Park.
What always attracts me to this village is not just the silence interrupted by the sound of running water or the smell of wood burning in the stoves of the houses. It is the way that nature there always seems to be one step ahead, as if it had decided to mold each stone, each trail, each narrow alley in its own image and likeness. And the humble humans have simply followed suit.

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A minha visita à zona sul da Vila do Gerês começou com aquela teimosia típica de quem olha para o céu carregado de nuvens cinzentas e pensa, “Ah, isto não vai dar em nada.” Claro que deu, mas nem a chuva, nem o vento, nem o casaco que insisti em não trazer conseguiram estragar o encanto daquele pequeno recanto escondido entre as montanhas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O que me atrai sempre nesta vila não é apenas o silêncio interrompido pelo som das águas a correr ou o cheiro da lenha a arder nos fornos das casas. É a maneira como a natureza ali parece estar sempre um passo à frente, como se tivesse decidido moldar cada pedra, cada trilho, cada ruela estreita à sua imagem e semelhança. E os humanos, humildes, apenas seguiram o exemplo.

I arrived via the road that winds along the Terras de Bouro side, and as soon as I approached the southern part of the village, I was greeted by a landscape that seemed to have come out of an old postcard: high mountains that, even covered by low clouds, command respect, rustic granite houses, some covered in moss and others covered in ivy, and streets so narrow that I sometimes had to take a deep breath to get through, and I'm not a lorry.
The houses, despite their robust and ancient appearance, are mostly impeccably restored. They preserve their original features with granite walls, small windows and dark wooden balconies that creak in the wind. Many of them are now local accommodation or rural tourism homes. I confess that I had mixed feelings. On the one hand, it's good to see the village gaining new life and new visitors. On the other hand, it is hard to realize that this rebirth, so often fueled by foreign investment, ends up pushing the few local residents, almost all of them elderly, to sell their properties and move to urbanized areas, closer to their children, health clinics and supermarkets that don’t close during siesta time.

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Cheguei pela estrada que serpenteia desde o lado de Terras de Bouro, e assim que me aproximei da zona sul da vila, fui recebida com aquele cenário que parece saído de um postal antigo, montanhas altas que, mesmo tapadas por nuvens baixas, impõem respeito, casas rústicas de granito, algumas cobertas por musgo e outras vestidas de hera e ruas tão estreitas que por vezes tive de respirar fundo para passar, e olhem que não sou um camião TIR.
As casas, apesar do aspeto robusto e ancestral, estão na sua maioria impecavelmente restauradas. Preservam a traça original com paredes de granito, janelas pequenas e varandas de madeira escura que rangem com o vento. Muitas delas são agora alojamentos locais ou casas de turismo rural. Confesso que tive sentimentos mistos. Por um lado, é bom ver a aldeia a ganhar nova vida e novos visitantes. Por outro, custa perceber que este renascimento, tantas vezes alimentado por investimentos exteriores, acaba por empurrar os poucos residentes locais, quase todos idosos, a venderem as propriedades e mudarem-se para zonas urbanizadas, mais próximas dos filhos, dos centros de saúde e dos supermercados que não fecham à hora da sesta.

As I walked between moss-covered walls, trying to find perfect angles for the usual photo, one of those moments that only happens in villages where everyone knows everyone else, or at least thinks they do, happened. An elderly man, who was on the other side of a small field, started waving enthusiastically and calling out to me. I thought, “Did I drop something? Are you warning me about a hole or a wild boar hiding behind the wall? Nothing like that.
He walked up to the wall with a broad smile and said, “Is that you, Maria?” I didn't have the courage to contradict him right away. Maria, apparently, was the granddaughter he hadn't seen for a long time, and to whom I apparently looked very much like. When I explained, very carefully, that unfortunately I wasn't his granddaughter, he looked at me with a half-disappointed, half-amused expression and said, "Well, I'm sorry, miss. But by the way, don't you want to stay here and talk for a while?"

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Enquanto caminhava por entre muros cobertos de musgo, tentando encontrar ângulos perfeitos para a fotografia da praxe, aconteceu um daqueles momentos que só se vivem mesmo em aldeias onde todos conhecem todos , ou pelo menos pensam que conhecem. Um senhor já com alguma idade, que estava do outro lado de um pequeno campo, começou a acenar com entusiasmo e a chamar-me. Pensei, “Será que deixei cair alguma coisa? Será que me está a avisar de um buraco ou de um javali escondido atrás do muro? Nada disso.
Aproximou-se do muro com um sorriso rasgado e disse “És tu, Maria?” Não tive coragem de o contrariar logo. Maria, pelos vistos, era a neta que ele já não via há uns tempos, e a quem pelos vistos eu tinha um ar muito semelhante. Quando lhe expliquei, com todo o cuidado, que infelizmente não era sua neta, o senhor olhou-me com uma expressão meio desapontada, meio divertida, e disse “Então desculpa lá, menina. Mas olha, já agora, não queres ficar aqui um bocadinho à conversa?”

Of course I stayed. We talked about the village, about the times that were no longer the same, the eternal national conversation, about the houses that changed hands and those that resist. She told me, with pride and a certain nostalgia, how everyone knew each other there and what it was like to see children running through the streets in the summers of yesteryear. Today, she said, only summer brings some youth to the village, when tourists arrive with hiking shoes and cell phones always in hand.
I said goodbye with a firm handshake and that human warmth that is only found in places where people still knock on doors to borrow an onion. I continued exploring, still with the image of that friendly man in my head, and I realized that, despite the smallness of the southern part of the village, there are many hidden corners. Some accesses are already half swallowed up by vegetation, others can only be reached on foot and with some courage and preference for non-slip boots, which I did not bring.

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Claro que fiquei. Falámos da aldeia, do tempo que já não era como antes, a eterna conversa nacional, das casas que mudaram de donos e das que resistem. Contou-me, com orgulho e alguma nostalgia, como ali todos se conheciam e como era ver as crianças a correrem pelas ruas nos verões de antigamente. Hoje, disse ele, só o verão traz alguma juventude à vila, quando os turistas chegam com as sapatilhas de montanhismo e o telemóvel sempre em punho.
Despedi-me com um aperto de mão firme e aquele calor humano que só se encontra em locais onde ainda se bate à porta para pedir uma cebola emprestada. Continuei a explorar, ainda com a imagem daquele senhor simpático na cabeça, e percebi que, apesar da pequenez da zona sul da vila, os recantos escondidos são muitos. Alguns acessos já meio engolidos pela vegetação, outros apenas percorríveis a pé e com alguma coragem e preferência por botas antiderrapantes, coisa que não levei.

I didn't have time to see everything, of course. There were trails to be discovered, hidden fountains to be visited, and maybe even one or two houses that, for Inside, it holds secrets from several generations. But that's also the charm of it, isn't it? Knowing that there's always something to watch again, something to revisit with or without family mistakes along the way.
The stubborn rain was interspersed with some half-openings. And there, between the smell of wet earth and the tranquility that hung in the air, I felt part of the village, even if only for an afternoon. In Vila do Gerês, especially on this less touristy southern side, there is a raw and authentic beauty that cannot be photographed, only experienced. And if you decide to pass by there one day, do so slowly. Someone might mistake you for a family member, tell you a story, or offer you a piece of Gerês that is not on the maps.
And believe me, it's worth every drop of rain.

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Não tive tempo de ver tudo, claro. Ficaram trilhos por descobrir, fontes escondidas por visitar, e talvez até uma ou outra casa que, por dentro, guarda segredos de várias gerações. Mas também é esse o charme da coisa, não é? Saber que há sempre algo para voltar a ver, algo para revisitar com ou sem equívocos familiares pelo caminho.
A chuva, teimosa, foi intercalando-se com algumas entreabertas. E ali, entre o cheiro a terra molhada e a tranquilidade que pairava no ar, senti-me parte da aldeia, ainda que só por uma tarde. Na Vila do Gerês, sobretudo neste lado sul menos turístico, há uma beleza crua e autêntica que não se fotografa, só se vive. E se um dia decidirem por lá passar, façam-no sem pressa. Pode ser que alguém vos confunda com um familiar, vos conte uma história, ou vos ofereça um pedaço do Gerês que não vem nos mapas.
E acreditem, vale cada gota de chuva.

I hope you enjoyed.
See you around.
Wishing you much peace and health

Those who pass by us do not go alone. They leave a bit of themselves, taking a piece of us."
Author: Antoine de Saint-Exupery, The Little Prince.

Text & Photography by @Onyfest